Fugiu o sono...
Os pensamentos se misturaram e viraram um filme.
De repente se concretizam alguns sentimentos e me perco olhando o reflexo no retrovisor.
Ser vencedor é a arte de superar e não desistir. Mas ser ator, ser artista, é a mais clara materialização dessa arte: ouvir "nãosssss".
Às vezes cansa... E nem podemos assumir.
Por muito menos nos fariam desistir.
Eu tenho medo e me sinto sozinha nos meus ideais. Incompreendida. Desvalorizada. Mas não é prudente assumir nem para mim mesma.
Tenho disciplina e organização para dar conta do sonho e da vida real.
A inflação voltou a subir sabia?
Nunca vou para cama tarde, não como muito, não fumo, leio bastante, vou ao teatro, me dedico a tudo com seriedade e uma pitada de loucura.
Loucura mesmo, é não acreditar.
Eu não escolhi agir, atuar. O palco me escolheu.
Sou tantas que só caibo em mim se souber que posso trocar as vestes e a maquiagem.
Carrego sementes murchas para um plantio certo. Mas e a colheita?
A única certeza é que tenho um caminho. E isso é tudo. O resto são dúvidas.
Só não posso duvidar de mim mesma.
Não me dou o direito.
Ser ator é isso. Acreditar!
Mesmo que o personagem não seja crível eu preciso defendê-lo. Mesmo se pagamos para estar nos palcos das escolas, mesmo se não cobramos para trabalhar no fim de semana, mesmo se a platéia não vem, mesmo quando se faz 3 testes por dia e o resultado não passa de 1 trabalho por mês, mesmo quando o salto quebra na hora errada, mesmo quando te julgam mal, quando você é o contra-regra, o figurinista, o produtor... Carregar e montar cenários cansa...
Mas cansa muito mais a aridez e a morbidez do sonho adormecido.
É preciso repousar o corpo e a alma.
E renovar as esperanças dia após dia.
E mesmo quando me falta a coragem eu repito: "brilho nos olhos!"...
Se pensarmos muito não damos um passo.
Então eu sigo. E sigo. E sigo. Incansável.
Eu não tenho plano B.
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